A topiaria, a arte de esculpir plantas em formas ornamentais, tem uma longa história e é associada à nobreza e os jardins formais. Um dos mais famosos pelo uso da topiaria é o jardim do Palácio de Versalhes, na França.
Diga NÃO à topiaria extrema e prefira plantas nativas brasileiras
O Palácio, Patrimônio Mundial pela Unesco, foi construído como um pavilhão de caça por ordem de Luís XIII em 1623, mas foi transformado e expandido por seu filho, o rei Luís XIV, o “Rei Sol”, a partir de 1661.
Luís XIV criou a residência para refletir a legitimidade de seu poder absoluto, tornando-o a sede da corte e do governo da França. O palácio foi a casa também de Luís XV e Luís XVI (que inaugurou os jardins de Marie Antoinette).
Versalhes foi um símbolo do absolutismo francês e da opulência da monarquia até a Revolução Francesa em 1789. Durante este período havia uma forte ideia de que o ser humano (e em particular, o rei) deveria dominar a natureza, e isso se refletia diretamente na arte, arquitetura e jardins.
O principal responsável pelo projeto dos jardins de Versalhes foi André Le Nôtre paisagista escolhido por Luis XIV, que lá trabalhou de 1662 até sua morte, em 1700.
Grande parte dos jardins fica atrás do palácio e eles foram criados para serem vistos do alto das janelas deste, de onde tem-se a impressão, devido à forma como os jardins foram planejados, de uma extensão muito maior que a real.
A simetria reina e tudo foi matematicamente elaborado. Os jardins são lindos, mas não representam a Natureza. São um espetáculo criado, controlado e mantido, com muito trabalho, pelo homem.
Topiaria e o controle da natureza
A topiaria foi usada intensivamente nos jardins franceses como os de Versalhes. Eles são exemplos claros do estilo “jardin à la française”, que busca: Simetria absoluta, linhas retas, controle total da vegetação e perspectivas organizadas para impressionar o observador.
Esse controle artificial da natureza refletia o poder do monarca absoluto. No caso de Luís XIV, seria algo como: “Assim como domino meu jardim, domino meu reino.”
Os jardins do Palácio de Versalhes simbolizam essa ideologia: a natureza foi moldada ao gosto do rei, e o espaço físico é uma extensão de sua autoridade divina e racionalidade humana.
Em contraste, mais tarde, no século XVIII, os jardins ao estilo inglês — com vegetação mais natural e “selvagem” — passaram a representar valores diferentes, como a liberdade e a natureza como algo a ser respeitado e não dominado.
Por que dizer não a TOPIARIA extrema nos nossos jardins?
Temos várias razões para NÃO usar a topiaria atualmente (principalmente quando ela é extrema) e dentre elas:
– A necessidade de manutenção intensa – As plantas usadas na topiaria exigem podas frequentes para manter suas formas, o que demanda tempo, gastos e dedicação. Poucos profissionais estão habilitados para fazer este trabalho e manter as plantas em boas condições.
– Uma questão de sustentabilidade – Jardins mais naturais e biodiversos são, cada vez mais, valorizados, pois promovem um ambiente mais equilibrado para a fauna e flora locais. A topiaria, por ser altamente controlada, pode limitar essa diversidade.
– A sua estética contraria a tendência contemporânea – O paisagismo contemporâneo tende a valorizar formas mais orgânicas e espontâneas, o que contrasta com a rigidez das esculturas vegetais da topiaria.
– Grande uso de plantas exóticas (não nativas) – O Brasil é o país com a maior diversidade do mundo. No entanto, segundo o paisagista e botânico Ricardo Cardim, nos projetos de paisagismo, tanto residenciais como privados e púbicos, são usadas 90% de plantas não nativas, quase sempre em uma variedade muito pequena.
Na topiaria em jardins brasileiros o ficus é a única planta nativa mais usada. As demais (podocarpo, buxinho, tuia, cipreste, teixo, azaléia, oleagno, viburno, murta e pitósporo) são de origem estrangeira.
O problema das plantas exóticas (especialmente das invasivas):
O fato de nossos jardins terem tantas plantas exóticas acontece, em grande parte, devido ao oferecimento no mercado, de mais plantas ornamentais de origem estrangeira, assim como mudas e sementes destas, do que das plantas nativas brasileiras.
Um belo jardim com diversas plantas exóticas, como a orquídea grapete, os buxinhos topiados, as palmeiras Fênix e os aspargos alfinete (planta africana e invasiva).
Também por isso, uma grande parte dos brasileiros desconhece a variedade nacional e muitos paisagistas são obrigados a usar exóticas em seus projetos por não encontrar com facilidade as nativas e também devido à preferência de seus clientes.
A quantidade de jardins brasileiros que usa Palmeira azul, Areca-bambu, Palmeira fênix, Cica, Capim do texas, Palmeira rabo de raposa e Agaves é enorme. E todas elas são plantas estrangeiras, muito conhecidas e desejadas, que são encontradas com facilidade e se adaptaram ao nosso clima.
As belas e exóticas cicas, naturais do sudeste asiático são uma constante nos jardins brasileiros, de norte a sul, tal a capacidade de adaptação e resiliência da planta. Mas não estamos repetindo as mesmas plantas demais?
As plantas exóticas são uma ameaça, principalmente as invasoras, que são as que se espalham rapidamente e de tal forma que mudam a composição dos ecossistemas naturais e matam as plantas nativas brasileiras nesse processo. Um exemplo é o Capim Gordura (de origem africana) que substituiu muitas gramíneas nativas do cerrado.
E não pense que ter uma plantinha exótica invasora é inofensivo: Um exemplo, dado por Ricardo Cardim, é que um passarinho pode comer a semente dessa planta e levá-la para uma área de mata onde a planta consegue se desenvolver e reproduzir. Em alguns anos pode acontecer que as plantas que vieram dessa semente consigam exterminar plantas nativas assim como os insetos e pássaros que se alimentavam delas.
Plantas nativas brasileiras em um belo jardim de Ricardo Cardim
O paisagismo regenerativo
Já há algum tempo surgiu a ótima tendência de valorizar nossa biodiversidade: É o paisagismo regenerativo, que dá preferência ao uso de espécies nativas, em especial as endêmicas (de uma certa região geográfica) e em risco de extinção.
Além de reviver a flora nativa, o paisagismo regenerativo atrai e cria habitats para insetos, pássaros e animais terrestres.
Também foi criada, pelo Green Building Council Brasil, a certificação de sustentabilidade GBC Biodiversidade para projetos de paisagismo, que exige ao menos 75% de plantas nativas brasileiras, incluindo árvores frutíferas e plantas que atraem polinizadores (para facilitar a reprodução dessas plantas).
O benefício do incentivo ao uso de plantas nativas brasileiras
Plantas nativas no paisagismo promovem a biodiversidade, criam paisagens naturais, regionais e autênticas, mostrando e mantendo a riqueza de nossa flora, dispendem menos esforço e manutenção pois estão adaptadas ao clima e solo do local e são mais resistentes a doenças e pragas.
Seguem algumas plantas nativas brasileiras para você escolher plantar e manter, ajudando muito o meio ambiente:
Outro jardim só com plantas nativas brasileiras
Quaresmeira, Jacarandá de Minas, Sibipiruna, Manacá da Serra, Ipê, Babosa Branca, castanheira, pau-brasil, seringueira, sumaúma, jabuticabeira.
Guaimbê, maranta-charuto, xanadu, helicônia, filodendro, erva mate, clúsia, hibisco, margarida, Begônia, Bromélia, Camarinha, Sálvia, Avenca, açucena.
Procure sempre saber a origem das plantas e busque plantas nativas, principalmente, as que crescem naturalmente perto de sua casa.
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